[extra] Galáxia • leituras do meu verão
O que eu li nesses últimos meses e o que ainda pretendo ler esse ano
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Meu verão foi recheado de leituras interessantes e separei algumas dicas para compartilhar com vocês: tem dois brasileiros contemporâneos, livros sobre diferentes experiências LGBTQIA+, duas distopias para quem é (ou não) da ficção científica, dois livros de não-ficção bem legais sobre jornadas e criatividade e o meu comentário sincero sobre um livro que está bombando nas redes. Vem comigo!
Dois romances brasileiros contemporâneos
Os últimos anos têm sido incríveis para quem ama literatura brasileira contemporânea, né? Histórias sensíveis, que falam de espiritualidade, identidade e das nossas raízes. Comecei o ano lendo duas autoras que já conhecia: Mariana Salomão Carrara e Socorro Acioli.
🌊 Oração para desaparecer, Socorro Acioli (Companhia das Letras)
Uma mulher chega a uma cidade desconhecida sem lembrar quem é ou de onde veio. A única coisa que carrega é a língua portuguesa. Aos poucos, a história dela se entrelaça com lendas indígenas, memória coletiva e a busca por pertencimento. Um romance muito envolvente sobre identidade e recomeços. Desses que te prende do início ao fim! Eu amei demais e com certeza já é uma das minhas leituras favoritas do ano.
🌳 A árvore mais sozinha do mundo, Mariana Salomão Carrara (Todavia)
O livro acompanha uma família rural no sul do Brasil, que vive do cultivo de tabaco. A história é contada a partir dos objetos da casa, que testemunham as mudanças e transformações ao longo do tempo. A autora reflete sobre convivência familiar e os desafios do trabalho com a terra, com um olhar delicado para as feridas sociais do país. Um livro triste e bonito, mas confesso que gostei mais do anterior dela, Não fossem as sílabas do sábado.
Se você gostou de: Torto arado, Tudo é rio, o Avesso da pele
Diferentes experiências e vivências LGBTQIA+
Sem dúvida, minhas leituras favoritas são sempre de autores queer. Tenho gostado de variar os pontos de vista e entender como as experiências LGBTQIA+ se conectam, mesmo em contextos tão diferentes. Nesse verão, fiz uma viagem literária pela Nigéria, por uma cidade universitária americana e até uma road trip pelos Estados Unidos.
🏳️⚧️ Nevada, Imogen Binnie (Todavia)
Maria Griffiths, uma mulher trans punk e cínica, larga tudo e pega a estrada sem destino depois de um término. Entre diálogos afiados e reflexões sobre identidade, ela questiona a própria existência enquanto tenta ensinar algo a um garoto que talvez seja como ela já foi. Achei esse especial demais, foi um dos meus favoritos dos últimos tempos e aquele que já recomendo para todo mundo.
🌟 Vidas tardias, Brandon Taylor (Fósforo)
Brandon Taylor nos leva ao universo de um grupo de jovens negros e gays em Iowa City, onde vivem dilemas sobre identidade, carreira e a busca por conexão. Eles enfrentam as dificuldades do presente, marcadas pela precarização da vida artística, relações tempestuosas e a ausência de horizontes. Uma ótima leitura!
🏳️🌈 Blessings, Chukwuebuka Ibeh (Doubleday)
Na Nigéria pós-ditadura, Obiefuna sempre foi diferente: sensível e sonhador, em contraste com a rigidez do pai e a masculinidade do irmão. O romance explora identidade, repressão e amor proibido em um país que criminaliza a existência LGBTQIA+. O livro foi aclamado por Chimamanda, o que ajudou a aumentar a sua visibilidade (mas infelizmente ainda não foi publicado no Brasil).
Se você gostou de: Moonlight, Will & Harper, Uma vida pequena
Navegações em nossos pensamentos
Gosto de intercalar leituras de ficção com não-ficção e meu tipo favorito são as de diários e memórias. Narrativas pessoais, leves e que oferecem uma visão íntima sobre o que é ser mulher neste mundo.
⛵ Nós: O Atlântico em solitário, Tamara Klink (Companhia das Letras)
Ando obcecada pela Tamara Klink e basicamente escutei todos os podcasts que ela participou nos últimos tempos. Aos 24 anos, ela atravessou o Oceano Atlântico sozinha em um pequeno veleiro e compartilhou os desafios físicos e emocionais de navegar por semanas apenas com a própria companhia. Uma história sobre coragem e liberdade. Recomendo seguir ela e acompanhar as suas outras viagens também!
🌀 A louca da casa, Rosa Montero (Todavia)
Metade autobiografia, metade ensaio, esse livro mistura histórias pessoais com reflexões sobre a escrita, a imaginação e a linha tênue entre realidade e ficção. Um mergulho na mente de quem escreve e no poder transformador das histórias. Confesso que fui com muita expectativa porque AMEI o outro livro dela, O perigo de estar lúcida, e acabei achado a fórmula um pouco repetitiva. Mas sempre vale a pena se aventurar na escrita de Rosa Montero.
Se você gostou de: O caminho do artista, A rosa mais vermelha desabrocha
Ficções científicas em mundos distópicos
Sci-fi é um gênero novo pra mim, mas que a cada ano vai ganhando um espaço novo no meu coração. Sinto que cada vez mais que nos aproximamos de uma distopia no mundo real, fico mais intrigada com elas no mundo ficcional.
🤖 Klara e o sol, Kazuo Ishiguro (Companhia das Letras)
Klara é uma inteligência artificial projetada para ser companheira de crianças. Observadora e sensível, ela tenta compreender os humanos enquanto aguarda ser escolhida por uma família. Um romance delicado que reflete sobre amor, tecnologia e o que nos torna humanos.
🌌 Mar da tranquilidade, Emily St. John Mandel (Intrínseca)
Do Canadá do século XXIV a uma escritora em quarentena durante uma pandemia, passando por um homem que ouve violinos em uma floresta vazia, essa ficção científica conecta vidas separadas por séculos em uma trama envolvente sobre tempo e destino. Foi meu primeiro livro da autora, que conheci depois de ficar vidrada na série Station Eleven, baseada em seu livro. Eu gostei da leitura, mas achei que os personagens não são tão bem aprofundados, será que os livros dela são todos assim?
Se você gostou de: Black Mirror, Kentukis, Acompanhante perfeita
Vale o hype?
Como uma boa geminiana, sofre um pouco de FOMO quando vejo todo mundo falando de um livro. Não sou muito fã desses best sellers mais pipoca, mas vez ou outra resolvo dar uma chance para ver qual é.
🐕 Três, Valérie Perrin (Intrínseca)
Adrien, Nina e Étienne são inseparáveis desde a infância, unidos pelo sonho de sair da cidade pequena e viver em Paris. Uma história sobre o tempo, laços que resistem e o que fica pelo caminho. Estava relutante com esse porque sabia de cara que não é muito o tipo de livro que costumo gostar, mas não tem como não dizer que o livro não prende. Não foi meu favorito dessa última leva, mas um bom jeito de passar o tempo.
Na listinha pros próximos meses:
Já comecei A contagem dos sonhos, o novo da Chimamanda Ngozi Adichie, e estou amando.
De onde eles vêm, do Jeferson Tenório: amo tudo dele e estou louca para ler o novo.
O quarto de Giovanni, do James Baldwin: sei que vou perder minha carteirinha LGBTQIA+ quando falar isso, mas acredita que nunca li nada do Baldwin? Preciso tirar esse atraso logo!
O colibri, do Sandro Veronesi: vi muita gente indicando esse e estou super curiosa.
Um defeito de cor, da Ana Maria Gonçalves: esta na minha lista há ANOS e estou só esperando o momento ideal para começar. Quero aproveitar o embalo que estou nas leituras para encarar as mais de mil páginas.
E você, tem alguma dica para me dar? Algum livro que conversa com esses e acha que eu vou gostar? Obrigada por assinar a Galáxia, nos vemos semana que vem.
O Colibri é simplesmente maravilhoso! Você já falou sobre "De Quatro" da Miranda July?
Ótimas indicações!